Entre a arte de comer e a ciência de nutrir

Um se sobrepõe ao outro?

CRÍTICAS

Ágatha Lima

6/27/20252 min read

white ceramic plate with food
white ceramic plate with food

Entre a arte de comer e a ciência de nutrir.

Estava navegando pelo Twitter (sim, sou twitteira há mais de 10 anos!) quando um post me chamou muito a atenção, da usuária @desrespeitadora, que fez um paralelo provocador entre a arte de comer e a ciência de nutrir.

Ela citou o escritor espanhol Júlio Camba, no livro A Casa de Lúculo, e o brasileiro Luís da Câmara Cascudo, em História da Alimentação no Brasil. Na hora, parei para refletir: como o nosso comportamento social em relação à comida tem mudado. E, enquanto nutricionista, qual é o meu (ou o nosso) papel nisso tudo? Enquanto sociedade, o que temos a aprender com essa transição tão clara?

Ciência e prazer não deveriam competir.

Acredito, com convicção, que a ciência da nutrição é fundamental para promover saúde, prevenir doenças e empoderar escolhas. Mas ela não pode engolir a arte de comer.

Educar sobre o que está no prato é importante, mas a comida que nos alimenta vai muito além de macronutrientes e tabelas. Comida também é cultura, afeto, memória, história e raiz.

Em meio a tanto controle, tantas metas, tantos cálculos… não podemos nos perder num mundo onde comer se resume a contar calorias.

Entre estética, saúde e afeto: o paradoxo do equilíbrio

Buscar saúde é legítimo.

Buscar estética também, por que não?

Mas tudo isso precisa andar junto com a sensação que a comida nos proporciona: saciedade, alegria, prazer, conexão.

“A alimentação, que era um prazer, passou a ser um problema de saúde pública.” Essa frase resume bem a crítica de Camba à forma como o comer foi se tornando um problema, um desafio técnico a ser resolvido, e não um ato humano a ser vivido. Sim, os números crescentes de obesidade, doenças cardiovasculares e síndrome metabólica são reais e preocupantes. E a pressão estética imposta nas últimas décadas só reforçou uma relação muitas vezes distorcida com a comida. Mas será que o caminho é a rigidez?

Tudo acaba no paradoxo do equilíbrio

A verdade é que tudo converge para o chamado paradoxo do equilíbrio: Quanto mais buscamos equilíbrio de forma obsessiva ou rígida, mais desequilibrados podemos nos tornar. Esse paradoxo se aplica perfeitamente à alimentação. Quem busca um padrão 100% limpo, sem falhas, sem desvios, sem prazeres “proibidos”, muitas vezes se vê num ciclo de culpa, compulsão, frustração e controle, ou seja, exatamente o oposto do que se buscava.

E aí, como você anda comendo?

Esse é o convite que deixo aqui:

Será que estamos vivendo a saúde que queremos ou só tentando performá-la?

Como nutricionista, sigo acreditando na potência da ciência. Mas sigo, também, defendendo que a arte de comer é insubstituível. E o equilíbrio real, talvez, esteja justamente em não tentar ser perfeito, mas sim, presente.